pela primeira vez eu encontrara efetivamente alguém que sabia descer um pouco aos recantos ignorados do meu espírito — os mais sensíveis, os mais dolorosos para mim.
a minha vida é pelo contrário uma vida sem segredo. ou melhor, o seu segredo consiste justamente em não o ter. e a minha vida, livre de estranhezas, é no entanto uma vida bizarra — mas de uma bizarria às avessas. com efeito a sua singularidade encerra-se, não em conter elementos que se não encontram nas vidas normais — mas sim em não conter nenhum dos elementos comuns a todas as vidas. eis pelo que nunca me sucedeu coisa alguma. nem mesmo o que sucede a toda a gente."
mário de sá-carneiro