"os sentimentos humanos são confusos e mesclados; eles se compõem de grande cópia de impressões variadas que fogem à observação, e a palavra, sempre demasiadamente tosca e generalizadora, bem pode servir para designá-los mas nunca para os definir.
o amor, por uma espécie de mágica, supre as grandes recordações. todos os afetos precisam de passado: e amor cria, como por encantamento, um passado de que se faz cercar. ele nos fornece, por assim dizer, a consciência de haver vivido, durante anos, com um ser que há pouco nos era estranho. o amor não é mais do que um ponto luminoso, entretanto parece absorver todo o tempo. há poucos dias ele ainda não existia, dentro em pouco não existirá mais, contudo, enquanto existe, derrama a sua claridade tanto sobre a época que o precedeu como sobre a que deve suceder-lhe.
as circunstâncias são pouca coisa, o caráter é tudo. é em vão que se renuncia aos objetos e aos seres, ninguém pode renunciar a si mesmo. alteram-se situações, mas se transporta para cada uma delas o tormento que se queria evitar, e como o homem não se corrige mudando de lugar, só se consegue aduzir remorsos aos arrependimentos, e erros às angústias."
benjamin constant